Usina de Letras
Usina de Letras
71 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62206 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22534)

Discursos (3238)

Ensaios - (10355)

Erótico (13568)

Frases (50604)

Humor (20029)

Infantil (5428)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140795)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6185)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Ensaios-->PARCERIAS NA POESIA -- 21/10/2001 - 00:58 (J. B. Xavier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
PARCERIAS NA POESIA
J.B.Xavier

Tenho recebido muita correspondência elogiando e criticando minhas parcerias com outros escritores da Usina de letras.
Sem exceção, todas fundamentam sua argumentação na questão da identificação de qual dos parceiros fez o quê para que o poema assumisse sua forma final, advindo daí, segundo essas argumentações, a impossibilidade de atribui originalidade ao texto e a dificuldade de catalogação do mesmo, uma vez que, em poesia, isto não é comum, e, portanto, não existe ainda uma maneira definida de arquivá-lo.
Essas argumentações, por sua vez, baseiam-se em premissas antigas, estabelecidas há muito, e aceitas como postulados indiscutíveis, como sói acontecer em assuntos ligados à intelectualidade humana – justamente a atividade que deveria ser a mais oxigenada e mutante delas.
Assim, em função da premissa, ou seja, de que é verdade o que afirmam, os críticos contrários às parcerias na poesia transformam-se em hermeneutas tenazes e reduzem o texto poético a um objeto para ser observado e analisado sob a lupa do microscópio da semântica.
Particularmente, tenho por hábito questionar as premissas. Primeiro porque questionar premissas é fundamental para que tenhamos uma visão ampla dos dois - ou mais - pólos de uma opinião, e segundo porque sei que é preferível a resposta errada para o questionamento certo, que a resposta certa para o questionamento errado.
O próprio meio em que estamos nos comunicando neste momento está a nos demonstrar a dimensão e amplitude – no tempo e no espaço – das mudanças que estão nos afetando, e se estamos realmente vivendo um momento de mutação na história humana, parece óbvio que os parâmetros que utilizávamos para aferição de nossa produção literária, também precisem ser revistos.
Portanto, ouso modestamente por em dúvida as premissas expostas nas mensagens que recebo, sem, no entanto, delas discordar completamente, porque, como ser humano presente e participante desse momento histórico de transição da humanidade, também eu tenho um dos pés fincados no futuro e o outro no passado.
Entretanto, dos ecos do passado, ressoam as palavras de Pitágoras:
“O homem é mortal pelos seus temores e imortal pelos seus desejos”.
Assim, sempre que posso, permito que meus desejos sobrepujem meus temores e, ainda que tropegamente, tento avançar ao desconhecido, mesmo não havendo regras para catalogar o que vou deixando pelo caminho.
Minha visão da questão é que o texto - de Guilherme de Almeida a João Cabral de Melo Netto, de Olavo Bilac a Vinícius de Morais, de Mário Quintana a Érico Veríssimo, de Chiquinha Gonzaga a Ferreira Gullar, de Charles Dickens a Rudyard Kipling, de Jorge Amado a José Saramago - tem que, antes de tudo, nos tocar a alma e abrir uma janela para nosso interior através da qual possamos enxergar a nós mesmos.
Ou seja, no caso da poesia, sua lírica, sua métrica, ou outro qualquer critério de análise crítico-racional, em termos de literatura - co-autoria entre eles - precisam se render ao conteúdo e á emoção, antes que à forma.
Parece indiscutível que a hermenêutica seja a tônica da análise critica literária, especialmente em se tratando - como disse Bilac - 'da última flor do Lásio, inculta e bela'.(sic)
Mas a língua portuguesa, que muitos intelectualóides já disseram não ser “poemável” é - voltando a Bilac - a um tempo, esplendor e sepultura, e - nos aconselha ele - é preciso vasculhar a ganga impura, entre os cascalhos, para encontrar a bruta mina da alma do poeta.
É lá, distante da síntese lógica, indiferente aos estilos, e, às vezes, á própria lingüista, que jaz a razão última da poesia: a consciência ampliada estabelecida pelo contato direto e imediato entre o poeta e o cósmico.
Claro está que a via pela qual a poesia transita tem se mostrado objeto de maior curiosidade, por parte dos críticos; mais até, do que a própria poesia, no que ela tem de essencial. Mas o jorrar de sentimentos transcenderá sempre a análise crítica e nunca se acomodará na estreiteza de suas fronteiras, advindo daí a eterna dicotomia existente entre o autor e o crítico.
É que o primeiro se expressa através de um estado alterado de consciência, exprimindo um conceito SENTIDO de manipular sentimentos, e o segundo se expressa através de um estado controlado de consciência, exprimindo um conceito PENSADO de manipular sentimentos.
Ambas as abordagens são os dois lados de uma mesma moeda, de maneira tal, que um não sobrevive sem o outro.
No que diz respeito ás parcerias, é necessário que não tentemos enclausurar a poesia em função das regras e normas da análise crítica. O contrário me parece mais coerente: Sujeitar as regras e normas da análise critica ao jorrar espontâneo da poesia, quer venha ela de parcerias ou de indivíduos.
Talvez a dificuldade que encontramos seja a falta de parâmetros novos para enquadrar atividades ainda não devidamente catalogadas e, talvez, a parceria seja uma delas.
Mas, as leis foram feitas para os homens, não os homens para as leis, portanto, somente quando a análise critica superar o concretismo do alcance de sua visão, poderá espiar o que acontece na alma dos poetas quando, em uníssono, criam. É algo que nenhum idioma ou sistema de análise estará jamais aparelhado para descrever convenientemente.
É que a verdade, se existe, não está nos extremos, está, penso, em algum ponto entre eles.

* * *
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui